quarta-feira, 1 de outubro de 2008

The Beast Inside

Cinza. Tudo estava cinza, e o que não era cinzento estava em chamas.

A Grande Clareira era um amontoado de corpos inertes, alguns desmembrados, outros irreconhecíveis, mas todos Garou.

Nícipe parou, o sangue quente voava por suas veias, o coração cheio de fúria e desespero, mas a única coisa que conseguiu reunir forças para fazer foi cair sobre seus joelhos e chorar como um filhote desamparado. Um farfalhar de penas a fez levantar subitamente a cabeça, um corvo negro a observava de cima de uma das árvores negras e retorcidas pelas chamas, baixando seus olhos para o chão ela viu Aniel parado ao lado do tronco fumegante, ele não ousaria olhar direto para os olhos de abismo de Dança-no-Silêncio.

Ela sentiu um espasmo quente nas entranhas e todos seus músculos tremeram numa ânsia por sangue... o sangue de Aniel. O sangue daquele responsável pela morte do Caern da Harpia, sangue de quem um dia ela chamara de amigo, Parente, irmão!

Dança-no-Silêncio se levantou com os músculos travados e caminhou até ele, o corvo grasnou e voou para o ombro do rapaz.

_Foi você... _ disse, num sussurro quase inaudível. Não houve resposta. Ela o agarrou pelo colarinho da jaqueta jeans e o jogou contra a árvore, derrubando cinzas e pedaços carbonizados _FOI VOCÊ!_ ela correu até ele antes que pudesse se levantar e transformando sua mão em glabro lhe deu um tapa no meio do rosto arrancando sangue.

Ele lançou um olhar cansado para Nícipe e levantou se apoiando na árvore limpando sem muito sucesso o sangue do rosto.

_Nós somos o que somos, Nícipe, eu e você. Eu estou aqui por um motivo, e você por outro, seja por vontade sua ou por força do destino... eu fui criado para servir a uma natureza de destruição, você nasceu para caçar coisas como eu... não é verdade?

Nícipe enterrou as unhas na palma da mão ao fecha-las com força, lágrimas quentes desciam pelo seu rosto.

_E você não poderia simplesmente negar isso?_ perguntou enquanto soltava as mãos para limpar as lágrimas.

_Você pode negar ser um Garou? Eu não tenho alma, Nícipe... e mesmo assim...eu consegui amar uma pessoa...

Ela virou outro tapa no rosto do rapaz, desta vez atingindo o outro lado.

_E COMO ALGUÉM COMO VOCÊ SABE O QUE SIGNIFICA AMOR??? VOCÊ TEM UM PROPÓSITO APENAS! DESTRUIR E TORTURAR_ ela apontava para o caern destruído _ , FOI PRA ISSO QUE NICHOLAI TE CHAMOU, FOI PRA ISSO QUE ELE...

_Ele quer o cubo para propósitos que nem nós sabemos... somos os peões que vão na frente...somos soldados, Nícipe... nós não somos nada, uma casca vazia... que guarda uma Besta que alguns prefeririam esquecer...

O rosto da garou mergulhou em tristeza e cansaço. Ela soltou os braços sem força e olhou para o chão.

_Que droga, Ani..._ ela abraçou o rapaz com força, e ele retribuiu _Você sempre estava ali, e sempre me ajudou, quando ninguém mais acreditava em mim, nem a matilha... você e o Uiva sempre...

Ele olhou para Nícipe com o rosto sério, o fato de estar ensanguentado não tornava o quadro mais bonito.

_Você precisa fazer uma coisa... agora faça logo!_ ao dizer isso abraçou a garou novamente e quando a soltou, Dança-no-silêncio já havia puxado a lâmina D’siah e com um movimento separou a cabeça de Aniel do resto do corpo.

O corvo voou para longe, grasnando maldições para Nícipe.

Quando o corpo inerte e decapitado tombou ao lado da árvore, Nícipe se virou para os corpos incinerados de sua matilha, quando um som atrás dela a fez virar levemente a cabeça na direção do corpo de Aniel e ela via o pescoço dele libertando fibras de músculo e puxando novamente a cabeça morta para si, o corpo de Aniel teve um espasmo e a pele foi se rasgando, libertando a verdadeira Fera presa dentro dele... agora Aniel estava morto e Nícipe iria vinga-lo.